sexta-feira, 13 de novembro de 2009 | By: Jaqueline Lopes

A situação do trabalhador na obra de Chaplin


“Tempos Modernos”, de Charles Chaplin


Produzido em 1936, com roteiro, direção, produção, música e atuação de Charles Chaplin, Tempos Modernos é uma das mais importantes obras desse artista. Com uma inteligência crítica sem igual, Chaplin mostra a vida urbana dos Estados Unidos nos anos 30 e foca principalmente no papel do trabalhador nessa época.
O filme traz como tema central, a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base na linha de montagem de grandes fábricas da época. Logo no início do filme, a imagem de um grande relógio pode significar uma analogia ao pensamento da sociedade capitalista: tempo é dinheiro. Logo em seguida, a cena da multidão de homens na entrada da fábrica. Impossível não relacionar essa imagem à de um rebanho de carneiros sendo guiado pelo pastor. O Homem sendo “guiado” pelo capitalismo.
Já na fábrica, Carlitos, personagem principal do filme, sofre com toda a pressão da produção industrial. Sua função é simples: apertar parafusos. Porém, os trabalhadores são obrigados a trabalhar no ritmo da máquina e não no ritmo humano. A qualquer distração de Carlitos, todo o trabalho é comprometido. Nesse ponto do filme, é possível fazer uma análise da ideologia de Marx acerca da alienação no trabalho. O trabalhador vende sua mão de obra para uma função, mas não tem idéia de quanto ela vale quando se leva em consideração o produto final, cujo ele sequer tem conhecimento do que seja. Outra cena interessante a ser observada é a que o proprietário da fábrica testa uma máquina de comida, na qual o trabalhador não precisa parar de trabalhar para se alimentar. Esse fato mostra como o proletariado é tratado, como escravos, e que os proprietários das fábricas estão explorando tanto a mão de obra que tentam até criar mecanismos para que eles não parem de trabalhar nem mesmo para comer. Com tanta pressão, Carlitos acaba “surtando” com o trabalho e começa a apertar tudo o que vê pela frente, causando um caos na fábrica. Além disso, ele é tragado pelas engrenagens da maquina na qual ele trabalha. Neste ponto do filme, Chaplin faz críticas sobre a opressão que o trabalho da indústria capitalista causa nas pessoas: o trabalhador se sente “engolido” pelo trabalho.
Depois de tudo isso, Carlitos acaba tendo problemas sérios neurológicos e acaba internado. Isso mostra como esse método de trabalho pode acarretar problemas sérios no ser humano. Ele é comparado ao sistema de uma máquina, onde seu chefe controla tudo o que ele vai fazer e a velocidade de sua produção.
Depois de sair da reabilitação, Carlitos descobre que a fábrica está em greve e ele sem emprego. É nesse ponto que Chaplin mostra que, apesar de toda opressão que o trabalhador sofria nessa época, o trabalho era essencial para sua sobrevivência. Depois de passar por tantos outros problemas no decorrer do filme, Carlitos conhece a menina do cais. Ela rouba comida para não passar fome e também para alimentar seus dois irmãos e seu pai, que está desempregado.
Nas cenas em que os dois estão juntos, o telespectador se comove com os sonhos deles: ter uma boa casa e uma boa vida. Esse é o motivo pelo qual Carlitos luta para conseguir emprego. E é essa outra crítica que Chaplin faz à sociedade capitalista, o desejo de consumo. Mesmo diante de tanta opressão e desvalorização no trabalho, o homem precisa dele para sobreviver e alcançar o status desejado.
Apesar de ser um filme mudo e de caráter humorista, Tempos Modernos é cheio de conteúdo crítico e ideológico, que faz com que o espectador reflita sobre cada momento e cada dificuldade da vida dos personagens e também de como o poder capitalista influencia na vida de cada um deles.

Jaqueline R. Lopes

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